domingo, 27 de março de 2011

da entidade nada sagrada: o ex

O seu relacionamento chegou na reta final, a dor já foi velada, você sozinha a enterrou, avaliou sua vida, tomou fôlego e foi estrear a sua nova temporada nesse estranho mundo novo. É nessa hora que você encontra a difícil tarefa de encarar o fato de ter um ex.

Ex é uma entidade viva. Um fantasma que rondará as suas lembranças. Até porque ex é pra sempre. Pode ser ex marido, ex namorado, ex ficante, rolo ou affair, ele para toda a eternidade da sua vida será um ex.

Não tem como fugir cumadi. Você pode usar os tratamentos mais diversificados. Falecido, finado, meu ex de tantos anos, meu ex ex, aquela pessoa, enfim, todas as vezes que você se lembrar daquele recorte da vida ele estará ali presente. E digo logo que nem David Lynch em seu filme Eraserhead conseguiu encontrar a fórmula para reconfigurar a placa mãe da sua memória.

Contra fatos não há argumentos gata, você um dia o escolheu para dividir preciosos momentos da sua vida, mesmo que tenha sido tudo somente sexo e amizade. E não adianta torcer o nariz de porrote não.

Amizade? Pode até acontecer, mas quando a dor do chute na bunda passar. E se ainda restou algumas cinzas de amor no seu coração, melhor se afastar, essa história de ir se consolar nos braços dele é furada, você pode acabar fazendo um revival e de flash back não tem coração que sustente, é infarto na certa. E cá pra nós, figurinha repetida nunca completou álbum não é mesmo?

É provável que você adquira desafetos, mesmo que você esteja na vibe do paz e amor, há grande probabilidade da próxima namorada do broto que passou na sua vida odiar você, ossos do ofício gata, você também é ex. Ela irá bisbilhotar suas páginas das redes sociais e acompanhará sua vida de perto, redes sociais são pratos cheios para namoradas atuais. Mas nada de aperreio heim? Vá viver sua vida e ser feliz, ela possivelmente não pagará suas contas.

A arte de se deparar com a entidade nada sagrada do ex é pensar que a recíproca é verdadeira e que os rumos das vossas vidas se desencontraram. Classe, querida, muita classe, a vida precisa de glamour e não será a entidade ex que deverá atrapalhar sua existência. Voilá a vida não espera.


Mas se a solteira amiga ainda tem uma esperança nos últimos suspiros do amor, então escute Ângela Maria e viva nova ilusão:


domingo, 20 de março de 2011

samba de bamba


Quem não gosta de samba, bom sujeito não é? Nem tanto ao céu nem tanto ao samba caro Dorival Caymmi. Em noites de lua cheia, rodas de samba podem ser o ápice da frustração da mulher solteira. O fato é que na pós modernidade a Marina morena se pinta sim e Amélia, meu grande Noel, definitivamente não era mulher de verdade. Que mané achar bonito não ter o que comer? Não é assim que a bateria nota 10 toca não.

Sambando podemos fazer uma observação participante digna de pesquisa etnográfica da saga da mulher solteira, com direito a diário de campo e tudo. Acontece que a roda de samba é o campo frutífero de flagrantes reproduções machistas nesse mundo ritmado de meu Deus. Desde quando uma mulher se sente homenageada quando o bamba diz que já teve mulheres de todas as cores? Pra cima de mim Martinho? Vá devar, devagarinho que todos os elogios não me farão curar o nego que vem de porre lá da bohemia.

Neste clima, eleve à centésima potência o grau de testosterona dos machos alpha, saudáveis do pé mas certamente ruins da cabeça. As cantadas? Deus do céu nos proteja, é necessário um glossário de cantadas mau sucedidas em edição especial para sambista. Refinem as cantadas e não venham com desculpas qualquer nota para justificar o exagero da cachaça na noite anterior.

Aviso aos navegantes deste barco de testosterona: se ficarem nessa, seremos nós que faremos coro com Nelson Gonçalves, levantaremos os braços e do fundo dos nossos pulmões cantaremos: Bohemia aqui me tens de regresso. Mulher moderna também canta samba com louvor, ginga com suavidade e toma aperitivo, tudo na mais perfeita classe. E não se ajeite não? O cachorrinho de estimação irá adorar curar seu porre.

Os tempos mudaram e se você, malandro sambista, quer ser o mestre sala da porta bandeira pós moderna, comece sambando direitinho, se não você ficará na arquibancada da solidão. Fale mais da nossa beleza, faça um ode à mulher brasileira em primeiro lugar, que assim poderemos escutar o apelo do Agepê e fazer de conta que você é o primeiro.



ps. Este post é em homenagem às solteiras sambistas Luciana Oliveira e Cyntia Coelho que viram de perto o alto teor de testosterona numa roda de samba.

ps1. Comente vá lá. Que mal faz um comentário?



sexta-feira, 18 de março de 2011

em noites de lua cheia


A arte de estar solteira compreende, dentre tantas coisas, aceitar sua condição de estar só por alguns momentos. Só somente só, curtindo a sua melancolia no maior patamar da sua roedeira. Nesses momentos em que você olha ao lado e não vê nada nem ninguém que possa realmente te tirar desse fosso.

Seu telefone não toca, nem sinal de fumaça daquele broto que prometia o céu, a terra e o mar e seu perfil do facebook, twitter e orkut estão mais abandonados que pão dormido. O jeito é curtir gata. Ame e aceite a sua condição de estar solteira, mesmo que em noites de lua cheia aquele cobertor de orelha faça muita falta.

Pode chorar, chorar lava a alma e o coração. Quando choramos visceralmente as lágrimas levam um pouco daquilo que nos fez sofrer. Mas nada de se afundar nessa solidão existencial. Estes momentos, embora sejam épicos e profundos, passam com o clarear do dia. Se avexe não cumadi, que amanhã pode acontecer tudo inclusive nada, como na letra daquele forrobodó.

Os desabores dos amores mau sucedidos devem ser degustados para ajustar o paladar quando a vida for brindar sua existência com aquele doce de goiaba em forma de homem. A inteligência emocional? Você pode guardar para outro dia, seguramente você precisará dela quando colocar seu nariz na rua.

Roer é uma condição peculiar à solterice, um dia você pode sentir falta. Aproveite abra um vinho, acenda um cigarro e escolha uma trilha sonora digna do roteiro de um filme de Chabrol. Sofra, mas sofra com classe. Quem disse que roer não é bom? A crise antecede à mudança minha cara gata borralheira. Espere a próxima lua cheia, quem sabe se o lobisomem não será uma ótima companhia?

Enquanto isso dance e chore com Leonard Cohen:




quinta-feira, 10 de março de 2011

amor de carnaval

A folia acabou, o rei momo foi pra casa e as orquestras silenciaram. É nessa hora que você, Drummond e o galeguinho dos olhos azuis, o Buarque de Holanda, perguntam: e agora José? É chegado momento de restabelecer a sua vida.

Tudo seria perfeito se e somente se a danada da quarta-feira ingrata, só pra contrariar, não deixasse algumas cinzas nas lembranças do coração. Paixão, ô, paixão. Esse amor de carnaval que durou uma canção na letra daquele frevo de Artur Lima Cavalcanti e Maximiniano Campos está ressoando em você colombina desamparada? Sinal que a saga da mulher solteira continua em sua vida.

Paixões de carnaval são saborosas mas, em geral, chegam ao fim com o silenciar do trompete, com a última batida da bateria da escola de samba nota 10. Às vezes volta na apoteose e se durar depois... bingo! você foi sorteada para viver um grande amor. Ouvi dizer que amores de carnaval duram para todo o sempre amém. Melhor pensar que as juras de amor do carnaval são como a fantasia que você é obrigada a despir depois da folia do momo.

Não se sinta sozinha nesse cordão, muitos corações ficam quebrados depois do carnaval. É a famosa depressão pós carnaval. Depressão muito comum entre solteiras e solteiros mundo à fora, mas ela não é duradoura, antes de casar passa. E se ele foi a serpentina partida, melhor que tenha ido embora em 4 dias, mais fácil será de se recompor. C'est la vie mademoiselle.






terça-feira, 8 de março de 2011

nós, as mulheres!


Somos mães, esposas, conselheiras, trabalhadoras e donas de casa. Ocupamos o mercado financeiro, somos economicamente ativas, mas batalhamos muito pra chegar até aqui. Temos uma presidenta da República.

Cantamos samba com louvor, batucamos nos botecos, dançamos com sensualidade e sabemos beber um aperitivo com muita classe.

Sabemos ser hostis, quando necessário, mas a sensibilidade é nosso charme principal.Falamos de sexo, gostamos de atrair, amamos ser desejadas e que atire a primeira pedra aquela que não gostar de uma boa cantada, mesmo assim adoramos um romântico- a- moda-antiga.

A cordialidade masculina nos atrai, buquê de rosas, chocolates e qualquer truque, ainda que batido, funciona com facilidade para nos envolver, mas percebemos fácil quando a cordialidade está travestindo o 171 canalhesco.

Quando nossa inteligência é subestimada, provamos nossa capacidade racional com muita habilidade e crueldade.

Somos contemporâneas, hippie, descoladas e clássicas. Equilibramos nosso corpo em saltos nº20, fazemos depilação semanalmente, nos maquiamos e estamos sempre perfumadas.

Gostamos de uma boa música e não dispensamos boas companhias para um papo agradável. Falamos sobre política, economia e comentamos o último filme do Spike Lee.

Nós já queimamos sutiãs, somos filhas de Joana D’arc, admiramos Anita Garibaldi e agradecemos às 130 grevistas tecelãs mortas numa fábrica por deixarem de herança a nossa liberdade.

quinta-feira, 3 de março de 2011

mas é carnaval [ou da série cantadas mau sucedidas]


A festa dionisíaca se aproxima e com ela os solteiros e as solteiras efetivamente se soltam regidos pelo deus Baco. Tudo vale por um 'vou beijar-te agora não me leve a mal hoje é carnaval', digo, tudo? Calma lá farristas segurem o frisson dessa festa para ocasionar com moderação.

Essa história de beija, beija, tá calor, tá calor, não está com nada se não rola no mínimo três dedos de prosa. Digo, três dedos de prosa legal e não uma prosa qualquer nota. As solteiras bem resolvidas não se importam em passar um carnaval inteiro sem um cobertor de orelha, até acham bom, carnaval é festa para diversão e esta não está condicionada apenas ao que diz respeito chenhem nhem.

É exatamente nessa festa do ano que somos obrigadas a escutar as mais vexatórias cantadas, e ai fica a impressão de que quanto maior a concentração de gente menos trabalhadas as cantadas ficam. Por isso elegi 2 das piores que escutei num carnaval para você meu amigo de fé, meu irmão camarada não reproduzir nesse carnaval, possivelmente com essas cantadas você será o arlequim chorando pelo amor da colombina no meio da multidão:

Cantada bipolar - Aquela que começa com um elogio e acaba com uma ofensa:

- Ei tu é linda, posso te dar um beijo?
- Não.
- Você é muito metida.
- Metida por que não quero te beijar?
- Não, porque tu se acha linda e gostosa.
- Vem cá amigo na tua concepção eu sou linda ou me acho linda?
- Você é horrorosa.
- Ah, esclarecida, pensei que tivesse escutado lá no começo da conversa que eu era linda.

Consideração unica: corra!

Cantada à la Otto Jambro Band - Aquela que não tem pé nem cabeça (essa acontece normalmente no MAC, ponto estratégico do carnaval de Olinda, é práxi):

- Você está de azul!
- É!!!
- Veja que interessante: o azul... (travou), pois é tá calor hoje não é?

Consideração unica: Se você estiver muito chapado melhor não se atrever a dar uma cantada, você corre sério risco travar no meio da cantada, vai ser engraçado mas você provavelmente não levará vantagem.

Carnaval, do grego 'carni valles', significa a festa dos prazeres da carne, ou seja, são várias opções de prazeres que a pessoa pode elencar para ser o seu porta estandarte e se o agarra agarra não foi eleito entre as moçoilas, paciência meu querido, não é porque é carnaval que ela é obrigada a satisfazer seu desejo, se aprume vá, pelo amor de Baco.

Por um carnaval relax, bonito e alegre na vida de todos nós, solteiros ou comprometidos. Voilá é carnaval e a vida vira uma grande festa.



se você quiser saber mais sobre cantadas mau sucedidas acessem aqui e não passem vergonha.